top of page

Breve biografia de Jung

Nascido em em 26 de julho de 1875 em Lesswil (cantão da Turgóvia) na Suíça no seio de uma família média, seu pai era um pastor luterano de aldeia, sua mãe era dona de casa bem estudada e influenciada pelo esoterismo. O avô paterno de Jung, foi médico cirurgião e deu aula na Faculdade de Medicina da Basileira onde Jung iniciou seus estudos em medicina, sua família vem de pessoas importantes dentro dos estudos médicos. Poucos meses depois do seu nascimento se mudaram para Lauren onde passou parte de sua infância, nesse período seus pais se separaram por um tempo e depois se reconciliaram.

As experiências decorrentes de ser filho de pastor o levou a ter contato com a morte desde cedo, já que seu pai celebrava os velórios. Essas experiências o levou, desde novo a refletir sobre o que há para além do corpo que é enterrado em baixo da terra depois desses funerais.

Em sua infância, tinha dificuldades na escola, nos estudos e socialmente. Por um tempo, inclusive, ficou afastado da escola em decorrência de uma fragilidade física, depois voltou aos estudos e se desenvolveu bem até a universidade.

O jovem Jung tinha muito interesse em contemplar a natureza, seu mistério e entendê-lo. Dessa busca nasceu os primeiros interesses na busca pelos mistérios da vida e da natureza da psique humana. Estudou Pitágoras, Heráclito, Empédocles e Platão e admirava suas ideias. Refletia sobre os temas mais profundos, inclusive investigou toda a biblioteca de seu pai para encontrar respostas, mas encontrou mesmo, observando a natureza e a si mesmo. Diz Jung em sua autobiografia “Memórias, sonhos, reflexões”:

“Vivia em contato com a natureza, com a terra, com o sol, com a lua e com as intempéries, diante das criaturas vivas e principalmente da noite, dos sonhos e de tudo o que “Deus” evocava imediatamente em mim. Ponho a palavra “Deus” entre aspas, pois a natureza (eu inclusive) me parecia posta por Deus, como Não Deus, mas por Ele criada como uma Sua expressão. Não me convencia de que a semelhança com Deus se referisse apenas ao homem. As altas montanhas, os rios, os lagos, as belas arvores, as flores e os animeis pareciam traduzir muito melhor a essência divina do que os homens com seus trajes ridículos, sua vulgaridade, estupidez e vaidade, sua dissimulação e seu insuportável amor-própio. Conhecia muito bem todos esses defeitos através de mim mesmo...”

Quando começou a encontrar algumas respostas a respeito desses temas importantes, Jung começou a desconfiar dos ensinamentos que seu pai e outros sacerdotes diziam nos templos para os fiéis, pensava que muitos deles diziam o que não sabiam sobre a natureza e os deuses, porque não investigavam e não viviam o que falavam. Foi por essa reflexão que, ao ter que escolher seu curso em uma universidade, descartou a carreira de teologia, apesar de os temas profundos o interessarem bastante, seguiu a profissão de seu avô para entender mais sobre a natureza do homem, a medicina.

Durante toda a faculdade, teve muito interesse pelo homem, pelo corpo, mas sabia que havia algo a mais para investigar. No momento de decidir sua especialização, investigou o que traria mais sentido para a sua busca e foi na psiquiatria que percebeu um mundo de possibilidades de estudos e de investigações. Escolher a psiquiatria, trouxe algumas consequências na vida social e profissional dele dentro da universidade, tendo em vista que já se destacava como um bom médico e que a área escolhida era bastante desprezada na época.

Em 1905 se torna professor de psiquiatria e também médico-chefe na clínica psiquiátrica da universidade de Zurique. Foi docente na universidade por 8 anos, e ao longo desses anos foi acumulando uma clientela particular que, em conjunto com seus outros trabalhos, sobrecarregou-o a ponto de ter de se posicionar para dar o seu melhor em um deles. Em 1913, abandona a universidade.

“Achava que a principal tarefa da psiquiatria era compreender o que se passa no interior do espírito doente e sobre isso eu nada sabia. Estava, assim, preso a uma profissão, sem prática alguma.”

Em seus anos, na clínica psiquiátrica e também e seu consultório particular, percebeu, a partir da experiência com os pacientes que precisava ir além da psiquiatria, que, juntar o seu eu n°1 racional, com seu n°2 esotérico, faria sentido na busca pelo aprofundamento da psique humana. Em 1909 aproximadamente, percebeu que para tratar uma psicose haveria de compreender sua simbologia e então começou seus estudos em mitologia que levou para o resto de sua vida.

A partir dessas investigações, chegou a alquimia e foi entendendo muito sobre a importância que suas reflexões de vivencias pessoas impactavam e sua construção enquanto terapeuta. Dizia:

“O psicoterapeuta não deve contentar-se em compreender o doente; é importante que ele também se compreenda a si mesmo. Por esse motivo a condição sine qua non de sua formação é sua própria análise: a análise didática. A terapia do doente começa, por assim dizer, na pessoa do médico. Apenas conhecendo-se a si mesmo e a seus problemas ele poderá cuidar do doente.”

As descobertas que fez a respeito da natureza da psique, fez vivendo, observando seus pacientes, sua família e a si mesmo. Desde cedo dava grande importância para o que seus sonhos diziam e já desconfiava que havia algo no inconsciente do homem que estava ligado a toda a história da humanidade. Ele diz:

“Asssim, pois, pelo menos uma parte do nosso ser vive nos séculos e essa parte é aquela que, para meu uso pessoal, chamei de n°2 (Jung dizia que ele tinha dois “eus”, o n° 1 que era racional e prático, e outro, o n°2 que se encantava com o esotérico) Ela não constitui uma curiosidade individual e a religião do Ocidente o prova, dirigindo-se -expressis verbis- ao homem interior; há cerca de dois mil anos esforça-se por fazê-lo patente à consciência superficial e ao seu personalismo: Noli foras ire, in interiore homine habitat veritas. (Não saias, é no interior do homem que habita a verdade.).”

Desde o inicio de sua carreira como psiquiatra, Jung estudava os trabalhos de Freud a respeito da psique humana e de seu inconsciente. Freud e sua teoria sexual nessa época não eram bem aceitos na academia, tanto é que, quando Jung começou a trabalhar junto a ele, foi perdendo sua fama de médico dedicado na universidade. Jung e Freud foram, para além de dois grandes gênios, também grandes amigos, Freud considerava Jung como um filho, que iria passar adiante seus achados na teoria sexual.

Foi exatamente essa alta expectativa que Freud criou em cima de Jung que fez a amizade entre os dois se abater. O que Jung trás, em sua autobiografia, era que seu amigo, não conseguia ver mais além de sua teoria, a via como um dogma e não tinha nada para além desse. Jung queria ir além, queria saber as motivações mais internas do homem, para além dos instintos e pulsões.

“Tenho ainda uma viva lembrança de Freud me dizendo: “meu caro Jung, prometa-me nunca abandonar a teoria sexual. É o que importa, essencialmente” Olhe, devemos fazer dela um dogma, um baluarte inabalável.” Ele me dizia isso cheio de ardor, como um pai que diz ao filho: “Prometa-me uma coisa, meu caro filho: vá todos os domingos à igreja!” Um tanto espantado, perguntei-lhe: Um baluarte – contra o quê?” Ele respondeu-me: “Contra a onda de lodo negro do...”Aqui ele hesitou um momento e então acrescentou: “... do ocultismo!” O que me alarmou em primeiro lugar foi o “baluarte” e o “dogma”, um dogma, isto é, um profissão de fé indiscutível surge apenas quando se pretende esmagar uma dúvida, de uma vez por todas. Não se trata mais de um julgamento científico, mas revela somente uma vontade de poder pessoal.”

Os anos que seguiram, após a sua saída da universidade foram essenciais. Jung se aprofundou nos estudos da alquimia e da simbologia, conheceu Richard Willhelm com o qual participou da publicação do livro de ensinamentos orientais “O Segredo da Flor de Ouro”, viajou por várias culturas como tribos africanas e americanas, Índia, Egito, américa do sul, entres outros lugares que impactaram muito a personalidade de Jung e por consequência sua obra.

“O anos durante os quais me deve nessas imagens interiores constituíram a época mais importante da minha vida e neles todas as coisas essenciais se decidiram. Foi então que tudo teve início e os detalhes posteriores foram apenas complementos e elucidações. Toda minha atividade ulterior consistiu em elaborar o que jorrava do inconsciente naqueles anos e que inicialmente me inundara: era a matéria-prima para a obra de uma vida inteira.”

A gênese de sua obra foi a sua própria experiência de vida, da interpretação de seus sonhos, de sua arte, do contato que teve com as variadas culturas, das pessoas que conheceu, do tratamento de seus pacientes, da sua relação familiar, por isso não é possível falar de sua obra de maneira separada, sua obra, foi resultado de sua vida.

“Minha vida é minha ação, meu trabalho consagrado ao espírito é minha vida; seria impossível separar um do outro.”

Depois de uma viagem Jung na década de 40, teve um ataque cardíaco e ficou durante um tempo internado em um hospital. Lá teve um espécie de experiência quase morte onde se encontrou com o seu eu sagrado o número 2. Nessa visão ele percebeu para si mesmo algo que durante muitos anos buscou compreender; O além da morte e o sentido da existência humana.

Após essa doença ele teve um período de muita produtividade, escreveu suas principais obras, deu palestras, atendeu pacientes, viajou, teve filhos e 19 netos e morreu em 6 de julho de 1961 aos 85 anos vítima da doença cardiovasculares que se manifestou pela primeira vez em 1944.


Autora: Jéssica Pereira Arantes


Bibliografia: "Memórias, Sonhos, Reflexões"

85 visualizações0 comentário
bottom of page